quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

O Oceano no Fim do Caminho

Neil Gaiman está de volta! Fui completamente apanhado de surpresa com a publicação deste livro por cá, quando a Newsletter de uma livraria conhecida surgiu no meu e-mail fiquei pasmado. "O quê já? Mas isto saiu o ano passado!" Não tardei a encomendar, e mal me chegou às mãos devorei-o. É certo que é um livro bem pequeno, mas completamente delicioso. Neil Gaiman está no panteão do Fantástico na minha modesta opinião. Não contente em ter publicado uma das novelas gráficas mais marcantes das últimas décadas, para quem não sabe refiro-me a Sandman, tem publicado livros com constante qualidade, e que abordam sempre uma vertente de realismo-mágico que muito me agrada.

Depois de Deuses Americanos, e um dos meus livros favoritos (sim tenho muitos livros favoritos) A Estranha Vida de Nobody Owens, Gaiman volta a impressionar-me. Neste O Oceano no Fim do Caminho voltamos a ter como personagem principal uma criança, e atrevo-me a dizer que poucos são os escritores que capturam de maneira tão mágica, e ao mesmo tempo tão real, a perspectiva de crianças.

O livro começa com um adulto, o qual nunca sabemos o nome (afinal trata-se de um relato na primeira pessoa faz sentido), que depois do funeral de um parente chegado vagueia até à sua casa de infância. Quando dá por si encontra-se no fim de um caminho, numa propriedade vizinha. É aí que sentado num banco à beira de um lago artificial, com uma senhora idosa a seu lado, relembra um acontecimento fantástico em específico na sua juventude, e com ele somos transportados. Como disse Neil Gaiman é um mestre em capturar a magia da infância. As pequenas coisas que quando éramos crianças para nós significavam o mundo. A diferença entre o mundo dos adultos e mundo das crianças, essa barreira que por vezes sentimos pena de ter transposto. Porque quem teve a sorte de ter uma infância feliz, de certo recorda esses tempos com saudade.

Recordamos com o narrador o dia em que uma tragédia com mineiro de opalas obrigou o seu pai a trocar o mini branco que tinham, e com isso despoletou uma serie de acontecimentos em cadeia. A visita à quinta das Hempstocks, onde provou pela primeira vez leite acabado de sair da vaca, e conheceu a sua amiga Lettie Hempstock. A chegada da malvada Ursula Monkton, que alterou a harmonia da vida do pequeno rapaz de sete anos. Recordamos as aventuras com Lettie para voltar a por tudo de volta ao seu lugar. E no fim, voltamos ao banco à beira do lago artificial, do Oceano como Lettie Hempstock lhe chamava.

Por vezes surgiam passagens que me deixavam pensativo, e me levavam a viajar à minha infância.

"Os adultos seguem caminhos. As crianças exploram. Os adultos sentem-se satisfeitos por seguir na mesma direcção, centenas de vezes, ou até milhares; talvez nunca lhes ocorra a ideia de abandonar o trilho, de rastejar debaixo dos rododendros, de encontrar espaços entre as vedações."

Este livro é para quem como eu, por vezes necessita de mergulhar de novo nesse universo maravilhoso, para quem passa pela rua onde já viveu e brincou até tarde tantas vezes antes, e recorda o nome de todos os colegas e brincadeiras que faziam. Este livro é uma pequena viagem ao passado de todos nós, e é uma viagem deliciosa.

Recomendo sem reservas, um livro que com certeza estará na minha lista de melhores de 2014 (e o ano ainda agora começou). Tudo isto por 14e?! Estão há espera de quê?

sábado, 15 de fevereiro de 2014

The Heroes

Depois destas férias voltei ao vício que é ler, e principalmente ler Fantasia que permanece o meu género literário favorito. E não podia ter voltado de melhor maneira, com The Heroes do grande Joe Abercrombie. Para que fique desde já anotado, Abercrombie é dos meus autores favoritos e ainda não me desiludiu em nenhum livro, e em The Heroes eleva o patamar em relação às suas publicações anteriores. Na First Law Trilogy mostrou ser uma das caras novas da Fantasia rompendo com muitas das ideias preconcebidas no género, no seu primeiro livro stand alone mas passado no mesmo universo Best Served Cold introduziu novas personagens, locais diferentes que apenas havíamos ouvido falar na trilogia inicial, e cimentou o seu lugar em definitivo como um dos mestres na chamada Dark Fantasy, uma fantasia onde fadas e magias arco-íris não tem lugar, em vez disso temos batalhas sangrentas, traições, agendas secretas e afins.

Se alguém achava que Abercrombie tinha dado o seu melhor ao produzir os seus 4 primeiros, e excelentes livros, desenganem-se! Porque The Heroes é até ao momento (e ainda não li Red Country o mais recente) o melhor livro do autor. Numa palavra? É fabuloso! Em várias? É fantasticamente fabuloso!

Em The Heroes temos uma história na veia de Abercrombie, inteligente, visceral, e assim de tudo o autor passa a sensação de que é real. Sentimos que estamos lá, vivemos as personagens, as suas dores e as suas alegrias, uma qualidade na escrita de Abercrombie que muito me agrada. Outra das suas grandes qualidades são os diálogos. É sem dúvida um dos melhores escritores de Fantasia nessa vertente, o que apenas aprofunda ainda mais o ponto anterior que os mundos e conversas dão a sensação de serem reais.

Abercrombie tem uma facilidade incrível em criar personagens que sentem, respiram e vivem nas páginas dos seus livros. Sempre que acompanhamos um ponto de vista de determinada personagem, sentimos que essa mesma personagem tem uma voz própria e única, completamente diferente de uma outra, como aliás qualquer pessoa de carne e osso.

Neste livro, e sem querer dar demasiado da história até porque apenas estão publicados dois livros em Portugal (espero que não tenham decidido parar! Podiam era sem dúvida ter as capas originais Britânicas muuuuito superiores) acompanhamos o ponto de vista de várias personagens na preparação de uma batalha iminente. Ora estando essas personagens de ambos os lados do conflito temos uma visão sobre a batalha privilegiada, e acompanhamos as suas decisões e consequências em primeira mão.



(Comparação das capas nas versões Portuguesa e Inglesa)

Um dos aspectos geniais do livro foi esta mecânica que Abercrombie utilizou para descrever algumas das batalhas. Acompanhamos um soldado da União à medida que carrega sobre as linhas dos defensores do Norte. Estamos dentro da sua cabeça. Quer fazer o que é certo, mas tem medo de morrer, medo de falhar. Uma lança trespassa-o. Olha para o portador da lança que o tombou e vê um soldado do Norte.

De repente o ponto de vista salta para o soldado do Norte que acabou de cravar uma lança no peito do inimigo. Parece algo tão simples, este jogo de saltar de ponto em ponto, mas a verdade é que é fantástico e resulta extremamente bem em cenas de batalhas, dando uma fluidez à acção que simplesmente não nos deixa pousar o livro. Houve alturas em que senti estar a ler os Irmãos de Armas (Band of Brothers grande mini serie sobre 2ª Grande Guerra) versão Fantasia, tal era a componente visual que me despertava o livro e o ritmo.

Muitas outras das facetas já reconhecidas do autor estão presentes, personagens com agendas próprias, descrições viscerais, e como não podia deixar de ser o humor negro de Abercrombie. Neste livro principalmente na personagem do Corporal Tunny, um veterano da União, que tem como lema extorquir dinheiro aos seus camaradas, e no que toca a lutar tudo que não envolva dados, muito pouco obrigado.

Outras personagens de livros anteriores fazem aparições, outras são várias vezes mencionadas, mas como disse falar delas ou demasiado sobre o enredo do livro seria estragar tanto as surpresas deste como dos livros anteriores. Espero que a minha pequena descrição das qualidades do autor chegue para aguçar o apetite. E esperemos que a publicação continue por cá, pois se Abercrombie não vende, pergunto-me o que venderá!

Boas leituras

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

De volta!

De volta depois de umas férias e uma visita rápida a Inglaterra, a verdade é que não tenho lido tanto quanto gostaria, e não foi por falta de tempo, mas estou a por a leitura em dia. Não ajudou muito ter lido um livro razoavelmente extenso (610 páginas) o qual terminei e em breve postarei a crítica, enquanto intercalava com um monstruoso livro de 1100 páginas. Por isso tive desculpa (ou não).

E para quem se está sempre a queixar que não recebe livros de presente, eis que com agradável surpresa na minha ida a terras Britânicas este belo exemplar me foi regalado.




Uma edição especial capa dura da Barnes & Noble do Dracula. Como se pode ver o livro é espectacular, e detém o título de livro mais bonito da minha colecção, destronando curiosamente outro exemplar do Dracula.



Uma edição especial da Harper Collins ilustrada, que também é bem catita. Clássico encontra o moderno. Outra curiosidade é que ainda não li o Dracula, falha que em breve espero colmatar. O que eleva o livro a um patamar superior, além da qualidade de todos os acabamentos, é o facto de no seu interior ( e não é isso que mais conta num livro?!) não ter apenas um romance, mas sim três! 

São eles:

  • Dracula (obviamente)
  • The Jewel of Seven Stars ( publicado em Portugal sob o nome A Jóia das Sete Estrelas )
  • The Lair of the White Worm (que penso não estar por cá publicado )
Como se não bastasse temos ainda uma dúzia de contos da autoria do criador do vampiro moderno. Não li ainda nenhum dos romances, mas devorei um conto diferente todas as noites da minha estadia em Inglaterra. Foram cinco contos fantásticos. O ambiente foi um factor determinante na experiência de leitura, à noite com uma tempestade a rugir lá fora, sozinho em casa numa terra estranha, os pequenos contos ganhavam outra dimensão.

Dos que mais me marcaram encontram-se "Judge's House" clássico conto de casa assombrada, este foi mesmo o meu favorito. "The Burial of the Rats" e "The Squaw" foram outros contos bastante agradáveis. Para quem conhece  Bram Stoker apenas através do seu clássico maior, fica aqui a dica para experimentarem a ficção curta de Stoker.

E obrigado à Sylvia que me presenteou o livro. Um dia não vamos ter espaço para tanto livro!


terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Top livros 2013

O ano está chegar ao fim, é uma altura de reflexão em que se revê o ano que passou. É também a minha altura favorita do ano em termos de livros, filmes e afins. É altura em que a Internet é inundada de listas e mais listas do que foi melhor durante o ano. E eu adoro listas! Nada melhor para se descobrir um novo livro, ouvir um álbum desconhecido, ou ver aquele filme que nos passou completamente ao lado. Aqui fica o meu modesto contributo para a listopia da Internet.

A lista não se cinge a livros editados no ano 2013, mas sim a livros que li durante este ano e que ficaram no meu top de leituras.

1-Black Prism de Brent Weeks

Simplesmente fantástico! O meu livro favorito do ano, e um dos melhores livros de fantasia que tive o prazer de ler. Primeiro livro de uma trilogia, Black Prism é complexo, cheio de reviravoltas, e impiedoso com o leitor dando verdadeiros "murros no estômago". Basta para isso dizer que numa das revelações mais bombásticas fechei o livro, e durante dois minutos chamei nomes feios a Weeks. Espero mesmo que algum dia chegue ao mercado português, é genial.




2- Prince of Thorns de Mark Lawrence

Bem-vindos ao interior da cabeça de uma das personagens mais sádicas e megalómanas da fantasia! Jorg Ancrath é cruel, mentiroso, desonesto, sádico. Jorg Ancrath é espetacular! Uma lufada de ar fresco para quem está cansado do herói bondoso e altruísta que vence sempre no fim. Neste primeiro volume da trilogia (que já está terminada Lawrence não brinca) conhecemos Jorg e o mundo que habita, uma espécie de futuro em que uma guerra passada devastou o mundo mergulhando-o de volta à idade das trevas. Bem escrito e divertido este livro tem tudo. É fantástico ver as personagens encontrar uma tecnologia passada perdida e tentarem adivinhar o que se trata ou julgar que é alguma magia negra. Mais uma vez esperemos que seja publicado por cá.


3- O Exorcista de William Peter Blatty

Crítica aqui no blog alguns posts atrás, não me vou alongar muito mais. É um livro com uma escrita tão bem elaborada, com uma história assustadora sim, mas vale tão mais que isso. Talvez a maior surpresa do ano nas minhas leituras, não estava nada à espera de ser arrebatado desta maneira. Hey e é uma pechincha comprem!






4- Ready Player One de Ernest Cline

O paraíso de qualquer geek, principalmente para os que cresceram nos anos 80 e 90. A crítica está no primeiro post do blog. Como se debruça sobre a cultura pop dos EUA na altura, dificilmente será traduzido para português.







5- Aprendiz de Assassino de Robin Hobb

O meu primeiro contacto com esta saga deu-se apenas este ano, e como todos os que já leram fiquei rendido a Fitz e às suas desventuras. É um livro maduro, uma história cheia de emoção e um grande livro de fantasia. Dispensa apresentações, e brevemente terminarei a primeira trilogia, nessa altura direi mais qualquer coisa.







6- O Hobbit de J.R.R. Tolkien

Dispensa apresentações. A espécie de prequela  do Senhor dos Anéis. Era uma falha minha nunca ter lido este livro sendo eu um enorme fã de Tolkien ( Senhor dos Anéis e O Silmarillion são os meus livros favoritos de fantasia de sempre, e que me introduziram no género era eu um menino). Com um tom diferente que a obra maior de Tolkien, afinal O Hobbit é um livro para um publico mais jovem, não deixa de ter aquela magia que só Tolkien consegue imprimir nas palavras. Ainda hoje face a grandes autores, arrepio-me quando penso no génio de este senhor ao criar tudo o que criou. Mágico!



7- O Pistoleiro de Stephen King

O início de uma das maiores aventuras da fantasia, muitas vezes comparadas a grandes obras como a de Tolkien, O Pistoleiro é um misto de fantasia, FC e horror. Roland é uma personagem cheia de mistérios, e o antagonista, o homem de negro, é neste livro um dos aspectos maiores, com todo o misticismo à sua volta. Uma grande leitura, em português, e que vale a pena apoiar! Não queremos que aconteça o mesmo que aconteceu a outra serie publicada pela Bertrand pois não?!





 8- Consider Phlebas de Iain M. Banks

O primeiro livro no Universo de Culture. Ficção Científica de qualidade, grandes conceitos e imaginação, e que levanta questões sociais e ideológicas bastante interessantes. Já faz falta ao mercado português ver mais FC de qualidade, pode ser que 2014 seja o ano.







9- Red Shirts de John Scalzi

Com um conceito completamente "louco" Red Shirts é um livro hilariante. Num universo bastante parecido ao de Star Trek, um dos tripulantes da nave espacial Intrepid começa a questionar o porquê de sempre que uma away team é realizada um dos soldados mais rasos, os red shirts ser morto, e nunca nenhum dos oficiais sofrer o mesmo destino. No meio de universos alternativos e questões metafísicas temos um livro bem engraçado.





10- Bitter Seeds de Ian Tregillis

Aqui está um livro que podia ver a luz aqui por terras lusas. A premissa é simples, um cientista louco nazi desenvolve um programa de treino de super soldados. Os poderes vão desde voar, a lançar bolas de fogo, ou a premonição. Face a esta nova ameaça com o que é que os aliados respondem? Com feiticeiros que conjuram seres de outro mundo através de sacrifícios. Parece uma ideia maluca? Parece, mas resulta! O livro tem os seus problemas, é a estreia do autor e tudo mais, por isso os pequenos problemas são perdoados. O primeiro de uma trilogia, que vou com certeza terminar.



E aqui estão os dez melhores livros que li durante 2013. Decidi não incluir BD, não porque não ache que seja um veículo para contar histórias tão potente quanto um livro, aliás algumas publicações que li neste ano tinham lugar no top com certeza, foi apenas para me facilitar a escolha. Como seria de esperar acabei por ler mais em inglês, mas foi quase 50/50.

Foi um bom ano de leituras, tenho que abater a lista de espera para começar a ler publicações que vão saindo. Mas falar é fácil, parece que o monte não acaba nunca, mas está diminuir.

A todos um Feliz 2014, e boas leituras!


segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Arrumações

Hoje foi dia de arrumações na caverna! Ando há muito tempo a tentar descobrir qual é a melhor maneira de organizar os meus livros na estante, por autor? Por género? Livros lidos e não lidos? Um misto de todos? Demasiadas escolhas para tão pouco espaço! O que acontece é que de quando em vez lá vou eu desarrumar a estante principal ( porque há mais mas não as posso chamar minhas ) e altero completamente a ordem.

Desta vez ficou tudo separado em livros que já li e livros por ler. Tentei manter livros dos mesmos autores juntos, e que tudo tivesse um ar "catita", mas a falta de espaço é tramada. Este exercício de quem não tem mais que fazer e claramente está de férias, serve para mais do que parece. Acabo por sentir o pulso à minha parca colecção, e para onde os meus gostos se tem inclinado. Além de que me divirto à brava, porque como já disse em várias ocasiões a amigos, acho que gosto mais dos ter do que os ler, e isto de os arrumar e tê-los nas mãos, folhear sentir o cheiro... Só quem gosta mesmo de livros sabe do que estou a falar.

Alguns dos pontos que anotei nesta reorganização:


  • O número de livros que possuo e  já li finalmente é maior dos que os que não li! (Obrigado Sylvia pela proibição)
  • O número de livros em Inglês é cada vez maior. Facilidade em ler nessa língua, o preço dos paperbacks, e o preço pornográfico dos livros em Portugal muito para isso contribuem. Mas mesmo assim a maior razão é mesmo a maior parte dos livros que me despertam interesse não estarem publicados na nossa língua. Ultimamente isto tem vindo a melhorar.
  • Vou ficar sem espaço na estante no próximo ano... (ou pelo menos para todos os livros continuarem bonitinhos e todos à mostra)
  • Tenho que arranjar espaço! Para isso vai contribuir a aquisição de um e-reader nesta quadra festiva. (se querem ter surpresas no natal não abanem as caixas nem associem o tamanho às lojas dos embrulhos)
  • Fantasia continua a dominar. Seguido de Ficção Científica, Horror, e Banda Desenhada que cada vez mais é um género que me desperta interesse.
  •   As séries/trilogias/sagas e afins são cada vez mais. Não que isso propriamente seja um problema, o problema é mesmo o tempo que demoram a ser concluídas. Tenho demasiadas series com apenas um ou dois volumes, que sei vão ter mais instalações. Podia simplesmente eliminar series e sagas que ainda não chegaram ao fim, mas pesa-me a consciência estar a passar ao lado de livros que possivelmente são muito bons. Mas não vou iniciar outra serie até pelo menos uma das que leio actualmente estar concluída. Não tenho mais espaço na minha vida para vocês series!
  • Gosto mesmo de livros!



Aqui ficou o resultado final, pelo menos por enquanto!

Aproveito este post para desejar boas festas e boas leituras a todos.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Consider Phlebas

"A guerra assolava a galáxia, Biliões haviam morrido, biliões mais estavam condenados. Luas, planetas, as próprias estrelas, enfrentavam destruição. Os Idirans lutavam pela sua Fé; a Culture pelo seu direito moral a existir. Princípios estavam em jogo. Não podia haver rendição."

Consider Phlebas é o primeiro livro no universo criado por Iain M. Banks, Culture. Penso que todos os livros no universo são histórias independentes umas das outras, mas como tudo nada melhor que começar no início.

A galáxia encontra-se em guerra. Duas das maiores facções lutam por motivos diferentes. De um lado temos os Idirans, uma raça guerreira alienígena que vive para se expandir e levar a sua crença religiosa e o seu Deus aos povos inferiores da galáxia, pois consideram-se os escolhidos para essa tarefa. Do outro lado temos a Culture (ou Cultura em português). A Culture é uma utopia tornada realidade. A Singularidade (ponto em que máquinas atingiram um nível de inteligência superior que os humanos) aconteceu e máquinas sencientes, as Mentes, governam a Culture, libertando os seres humanos para perseguirem todo e qualquer objectivo ou sonho que desejem.

O universo criado por Banks tem por isso uma forte componente política, em que dos dois lados estão ideologias completamente opostas. Sem nunca transparecer que uma ideologia é melhor que a outra, mesmo tendo o protagonista principal claramente contra uma delas, Banks tece uma frágil teia ideológica, política, e moral que nos cativa e levanta tantas questões quantas bons livros nos devem levantar. Estar do lado da evolução biológica, da crença religiosa? Ou do avanço tecnológico, tal que temos entidades parecidas com deuses, mas perdemos a identidade, a busca do que nos faz humanos, entregar o destino nas mãos de outro.

São estas e outras questões que o protagonista desta história deve ter enfrentado, tendo se decidido pelo lado dos Idirans. Horza de seu nome. Humano. Mas uma espécie diferente de humano. Horza é um Changer, o que significa que consegue transformar a sua aparência física e copiar outro qualquer ser humano. Inevitavelmente a sua raça foi recrutada pelos Idirans, e encarregue de missões de espionagem.

É nesta situação que primeiro conhecemos Horza, literalmente com "porcaria até ao pescoço" numa das situações mais bizarras do livro. Desde aí uma espiral de acontecimentos se desenrola. Após Horza ser salvo de uma situação complicada, uma nova missão é lhe atribuída. Uma Mente da Culture despenhou-se num Planeta dos Mortos, e os Idirans querem capturar essa Mente. Para isso decidem enviar Horza, pois só ele conseguirá ter acesso ao Planeta dos Mortos. E é aqui que me apercebo de que este livro é apenas a porta de entrada para um Universo maior.

Passo a explicar, os Planetas do Mortos mais não são que museus, exposições à escala planetar de civilizações que dizimaram toda a vida nos planetas que habitavam, incluindo a sua. Estes planetas são guardados, ou neste caso curados, por seres extraordinários, quase deuses, chamados Dra'Azon, que não admitem interferências do mundo exterior com os seu monumentos à morte. Por quão interessante e rico isto possa parecer, não passa de uma história secundária, um doce dentro do saco de gomas que é todo o livro.




À medida que acompanhamos Horza na sua missão muitas mais situações se desenrolam, desde a captura por selvagens canibais liderados por um profeta louco, a um jogo de sorte e azar em que perder uma vida significa perder literalmente uma vida humana, ao inevitável confronto final que se torna mais pessoal que profissional.
Horza não é de todo o herói que se espera, tem defeitos, e várias vezes dei comigo a discordar com a maneira que agia, ou a achar um seu opositor mais digno.

Mas aí está a beleza deste grande livro de sci-fi! Não é tendencioso para qualquer dos lados do conflito, e embora eu tenha a maior parte das vezes alinhado mais com a ideologia da Culture, várias foram as vezes que discordei também. Um grande livro para iniciar um Universo que ao que tudo indica será rico e cheio de ambiguidade moral e surpresas.

O aspecto mais negativo do livro será a forma algo rápida, na minha opinião, como o final se desenrolou. Não a batalha e acontecimentos finais, mas o tratamento. Queria saber mais sobre os Dra'Azon, Sobre a Culture e o seu modo de vida. Sobre o passado dos Idirans. O que no fim acaba por não ser sequer um aspecto negativo.



Infelizmente Iain M. Banks deixou-nos durante este ano. A melhor forma de honrar a sua memória será lendo a sua obra que se estende não só pelo ramo da ficção cientifica com os livros no Universo Culture, mas também com os seu livros de literatura genérica assinados sob o nome de Iain Banks. Infelizmente não existe uma edição recente das obras de Banks em Portugal. Uma pesquisa rápida pelo site da Wook mostrou-me que, para grande surpresa minha, este livro está publicado em português. Uma publicação de 1991, que está apenas a 6,32e! É de aproveitar, é um grande livro, o qual recomendo. Embora existam mais livros neste Universo, Pensa em Phlebas  pode ser lido individualmente sem qualquer problema.

Se procuram boa ficção científica, aqui está uma opção a considerar.

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

O Pistoleiro - Torre Negra 1

"O homem de negro fugiu pelo deserto e o pistoleiro foi no seu encalço."

Assim começa a aventura de Roland Deschain, o último pistoleiro, num mundo que avançou. Por muitos considerada a obra maior de Stephen King, a saga da Torre Negra demorou 20 anos para ser escrita (e esta fãs de GRRM?!) com mais de 30 milhões de livros vendidos, é uma das series mais famosas do fantástico, que finalmente chegou a Portugal.

No primeiro volume desta saga épica o pistoleiro persegue o homem de negro, uma figura misteriosa de que pouco sabemos, apenas que Roland o tem que alcançar, e consequentemente chegar à Torre Negra. Adoro o facto de não sabermos praticamente nenhuma das motivações de Roland no início, porque persegue ele o homem de negro? Porque quer tão desesperadamente alcançar a Torre Negra? Quem é Roland? Quem é o homem de negro? E que mundo é esse em que o pistoleiro habita?
Ao longo do primeiro volume vamos tendo alguns vislumbres de respostas a essas questões, para outras logo de seguida se levantarem, o que só trás mais mistério e interesse em virar só mais uma página. Além de nos mergulhar directamente na acção, seguindo a máxima "mostra, não digas".

O mundo do pistoleiro, embora com várias parecenças com o nosso, é algo diferente, como tantas vezes nos aparece é um mundo que avançou. Todo este mistério adensa-se quando Roland conhece um rapaz, ao que tudo indica, de Nova Iorque, levantando assim a possibilidade de outros mundos existirem.

Como inspirações para o livro são referidas um poema de Robert Browning Childe Roland to the Dark Tower Came, bem como as lendas arturianas e a Terra Média, o mundo criado por Tolkien. Mas a inspiração mais óbvia é a do pistoleiro em si. Inspirado em Clint Eastwood no Bom, Mau e o Vilão, Roland é um herói solitário que perdeu tudo, um pistoleiro exímio que consegue arrancar as asas de uma mosca, que vive em constante luta com fantasmas do passado, e parte numa missão de busca e redenção.

Se Roland é um personagem fulcral neste primeiro volume, não podemos esquecer o mítico homem de negro. Pouco se sabe dele, apenas que possuí poderes estranhos e perigosos, e que pode dar as respostas que o pistoleiro tanto quer.


O Pistoleiro é o primeiro volume da Torre Negra, com o segundo a chegar em Janeiro do próximo ano (não tenho certeza quanto a esta informação, mas penso que foi a data que vi algures na net). Recomendo absolutamente! É um leitura rápida, um misto de fantasia, sci-fi e terror, com um personagem cativante, um antagonista ainda mais cativante, com mundos alternativos estranhos, e a porta para uma das melhores sagas de fantasia.